(Ellen Cristie)
Uma boa notícia para mulheres que sofrem de enxaqueca, uma das mais importantes entre 180 tipos de dor de cabeça. A Sociedade Brasileira de Cefaleia divulgou pesquisa revelando redução do sintoma em pelo menos 63% de mulheres grávidas estudadas.
A pesquisa integrou a tese de doutorado Cefaleia na gestação, de Eliana Melhado, neurologista membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), docente da Faculdade de Medicina de Catanduva (SP), e doutora em Ciências Médicas pela Unicamp.
De acordo com Eliana Melhado, foram analisadas 1.101 gestantes, do primeiro trimestre de gestação até o parto. Mais de 80% delas se queixavam de enxaqueca. "No estudo avaliamos tanto pacientes com enxaqueca como com outros tipos de cefaleia e constatamos que a melhora é gradual."
Entre os dados obtidos pela neurologista, foi constatada uma melhora das dores de 50% no primeiro trismestre, subindo para 55% no segundo e 63% no terceiro, em média.
De acordo com Eliana Melhado, para entender essa redução gradual das queixas é preciso entender o que representa a menstruação. Cerca de 70% das mulheres com enxaqueca pioram o quadro durante o período menstrual, especialmente três dias antes. É nessa fase que há queda do hormônio estrogênio, provocando reações químicas que culminam na dor. "Como na gravidez os níveis de progesterona e estrógeno são os mais altos da vida da mulher, principalmente do meio para o fim da gestação, isso faz com que esses hormônios permaneçam altos e se estabilizem. Como resultado, a mulher não tem quedas hormonais e não apresenta dores de cabeça", explica.
Especialistas da Sociedade Brasileira de Cefaleia apontam que 33% das mulheres desenvolvem a chamada enxaqueca menstrual junto com a menarca - a primeira menstrução - exatamente por essa flutuação nos níveis do hormônio sexual feminino.
É comum, inclusive, que depois do parto as mulheres que passaram a gestação com redução dos sintomas da enxaqueca voltem a sentir dores de cabeça novamente, não necessariamente com a mesma intensidade que anteriormente.
A dor de cabeça simples ou cefaleia engloba todas as formas de dor de cabeça, ou seja, mais de 180 tipos. A enxaqueca, por sua vez, é um desses tipos e é caracterizada por incapacitar o paciente, na maioria das mulheres, que podem vir a se ausentar do trabalho, sendo muitas vezes impedidas de fazer atividades de lazer, com consequente queda da qualidade de vida. Outra queixa muito comum é a dor de cabeça tensional, aquela diária, corriqueira, mas que, no entanto, pode incapacitar o doente também. Geralmente, afeta mais os homens.
ALTERAÇÕES Como fatores desencadeantes da enxaqueca estão alterações bioquímicas provocadas por falta de sono, excesso de sono (algumas pessoas devem evitar a cochilada depois do almoço), período pré-menstrual, alguns cheiros, alimentos como o vinho, laticínios, café, chocolate (há relatos incluindo melancia). "Causas decorrentes da alimentação representam apenas 20% dos registros, mas 70% das pessoas que se queixam de enxaqueca é devido ao jejum por três ou quatro horas. O restante é decorrente do estresse. Por isso a importância de se alimentar em intervalos que não ultrapassem três horas", comenta a especialista.
Os principais sintomas da enxaqueca incluem vômito, náusea, fobia à luz, mal-estar e latejamento da cabeça (nas têmporas e nuca). Mas, em algumas situações, a enxaqueca é confundida com sinusite. "Somente o médico, a partir de anamnese e avaliação clínica, é capaz de determinar o diagnóstico. Talvez o paciente observe alguns fatores, com algum alimento que o prejudica, mas o especialista é quem dá o veredicto." Caso o médico suspeite de doenças mais graves, como tumor cerebral e acidente vascular cerebral (AVC), ele solicita outros exames de imagem mais criteriosos.
Com o resultado das pesquisas, a neurologista pretende, em 2011, lançar o livro Cefaleia nas mulheres.
FONTE: Cristie, Ellen. Gravidez e Enxaqueca. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, 5 de dezembro de 2010. Caderno Bem Viver, p. 02.
